Eram duas e meia da manhã, ouviu-se o barulho da porta se abrir e passos descalços no chão frio, o destravar da fechadura do portão ecoou pelo silêncio da madrugada fria, a neblina impedia que Luís visse o final da rua pela qual seguia.
Ele caminhava em passos largos ensaiando a futura conversa:
_Oi, demorei muito hoje? Trouxe miojo cru pra gente comer, você gosta?
O caminho da sua casa até o Hospital variava de cinco a seis minutos se fosse andando que nem ele, ao dobrar uma esquina ele se deparou com um gato e um cachorro deitados juntos, tentando se aquecer da primeira madrugada de inverno. Ele passou e recomendou:
_As pessoas não podem saber que vocês são amigos.
Ao atravessar uma avenida que estava vazia ele avistou uma pessoa com roupa hospitalar branca, abraçando as árvores do parque e desejando boa noite. Ele se aproximou e chamou pelo seu nome:
_João?
João ainda abraçado olhou para Luís e fez questão de apresentar as árvores para seu amigo.
_Oi Luís, eu estava aqui me despedindo dos moradores aqui do parque, essas são Doriana e Bony, e aquele é o César.
_Muito prazer pessoal - cumprimentou Luís, acenando para as árvores.
_Já vou, amanhã vejo vocês - despediu-se João.
Os dois aventureiros da noite seguiram em direção a um grande gramado que ficava nos fundos do Hospital e se acomodaram.
_João é impressão minha mas quando eu cheguei eu percebi que você estava com o pijama do Hospital?
_Tava, eu me atrasei hoje e esqueci de trocar. Mas eu trouxe maracujá pra gente e você trouxe o que?
_Miojo cru, você gosta?
_Só o de feijão - respondeu João tirando dois maracujás de dentro de uma sacola.
Os dois amigos conversaram por longas horas, sem sequer reclamarem do frio, pois estavam aproveitando aquele momento juntos. O dia foi amanhecendo e Luís levantando-se disse:
_Já vou indo meu amigo, dá cá um abraço.
Ao tentar se levantar, João se sentiu fraco e regurgitou tudo aquilo que fora comido.
_Teremos que arrumar um outro lugar para sentar amanhã - recomendou João.
_Não tem problema esse gramado é grande.
Eles se abraçaram por cerca de uns quinze segundos e cada um seguiu para um lado, mas olhando para trás Luís perguntou:
_Você volta amanhã?
E João respondeu:
_Se o câncer não me matar até lá.